Arquivo da categoria: Ciência da computação

Destaque acadêmico CIn-UFPE

O Centro de Informática da UFPE criou um programa de reconhecimento ao ensino de graduação que tem o intuito de incentivar e dar destaque aos docentes que foram melhor avaliados pelos alunos.

Tive a honra de ser um dos cinco professores reconhecidos no segundo semestre de 2024 por este programa. Agradeço, em particular, aos alunos da turma de Metodologia Científica (relativo ao segundo semestre de 2024) que voluntariamente avaliaram os meses que compartilhamos no curso.

Esta é uma importante iniciativa que destaca os professores por seu compromisso e dedicação que contribuem para à formação dos novos profissionais em computação.

Ser reconhecido por algo que você gosta de fazer é contentamento em dobro!!!

Defesa de Tese — Ingryd

Hoje, 26 de agosto de 2025, ocorreu a defesa de tese de Ingryd Vanessa, com o título Detecção de fake news utilizando multi-view autoencoders

2025 defensa de tese de Ingryd

A tese propõe estratégias para fundir diferentes formas de representar texto usando autoencoders.  Ingryd propõe a adição de um componente supervisionado na função de loss do multi-view autoencoder com o intuito de gerar uma representação final mais acurada, tendo em vista que os rótulos das classes são usadas no processo de treinamento para a geração do embedding combinado. 

Esta foi a defesa de doutorado número de 675 do Centro de Informática da UFPE. E ocorreu exatamente um ano após a defesa de Juscimara (número 636) que agora é professora do CIn. Tsang e Alceu compartilharam a banca dessas minhas duas alunas. A coincidência de datas foi puro acaso!

Ingryd foi bastante resiliente ao longo do doutorado. Esta jornada começou antes da pandemia (2019), passou por todas as fases da pandemia e teve seu desfecho em um momento em que muitos já esqueceram que tivemos uma pandemia recente. Foram muitos os percalços, desafios que foram além da dificuldade inerente de um doutoramento. Esteja orgulhosa do seu caminhar, das batalhas vencidas. Os altos e baixos do processo, sejam do ponto de vista pessoal ou de pesquisa, tonaram você uma pessoa mais resiliente e uma pesquisadora mais madura. Sucesso nos próximos passos.

Parte das contribuições da tese foram publicados no seguinte artigo:

Ingryd V. S. T. Pereira, George D. C. Cavalcanti, Rafael M. O. Cruz. Multi-view autoencoders for Fake News Detection. IEEE Symposium Series on Computational Intelligence (SSCI), Trondheim, Noruega, 2025.

Mais detalhes sobre esse artigo podem sem encontrados neste link.

Agradeço ao prof. Rafael Cruz que foi o co-supervisor de Ingryd nesses anos de doutorado e a banca formada pelos professores:

— Tsang Ing Ren (CIn-UFPE)
— Adiel Filho (CIn-UFPE)
— Maira Araujo de Santana (CIn-UFPE)
— Alceu de Souza Britto Jr (PUC-PR)
— Rafael Ferreira Leite de Mello (UFRPE)

Roma, Itália (IJCNN’2025)

O Internacional Joint Conference on Neural Network (IJCNN) ocorreu na histórica cidade de Roma, Itália, de 30/junho a 5/julho com o tema All Neural Network roads lead to Rome. Este ano, o IJCNN recebeu 5526 artigos, dos quais 38% foram selecionados para serem apresentados durante o evento nos formatos oral e pôster. 

Da esquerda para a direita: eu, Rafael, Lucas e Cynthia.

O evento ocorreu na Pontificia Università Gregoriana que é uma universidade jesuíta da igreja católica, localizada no centro da cidade, na Piazza della Pilotta. Esta praça, a poucos passos da Fontana di Trevi, está localizada na encosta do monte Quirinal, a mais alta das sete colinas de Roma.

A história por trás do nome da universidade é a seguinte: em 1551, foi fundada a “Escola de Gramática e Doutrina Cristã”, por desejo de Santo Inácio de Loyola. Poucos anos depois, em 1567, o Papa Paulo V elevou a escola à categoria de universidade. Devido ao crescente número de estudantes, o Papa Gregório XIII a transferiu para um novo local construído para esse fim e, em 1584, a universidade adotou o nome de “Gregoriana” para homenagear o Pontífice.

Participar de um congresso é sempre um prazer. Mas, o sentimento que comumente aflora, durante e após o evento, faz-me perceber que preciso ler tanta coisa e isso causa uma certa dose de desconforto. Pois, essas novas e necessárias leituras, se juntam a tantas outras que ainda não consegui absorver de outros eventos e de buscas anteriores. E, nesse evento, o sentimento não foi diferente. Manter-se atualizado perante o estado da arte da área é uma necessidade e um grande desafio.

Fui co-autor de dois artigos, frutos do trabalho de meus alunos de doutorado.  Fiquei bastante feliz que eles (Cynthia e Lucas) conseguiram participar do evento e ter a experiência de apresentar seus trabalhos e vivenciar o evento. Os trabalhos foram:

— Cynthia Moreira Maia, Lucas B. V. de Amorim, George D. C. Cavalcanti, Rafael M. O. Cruz. “ PIPES: A Meta-dataset of Machine Learning Pipelines”. 

O artigo apresenta uma meta-base de dados, ou seja, uma coleção de experimentos (chamada PIPES) que contém múltiplos pipelines projetados para representar todas as combinações dos conjuntos de técnicas selecionados, visando diversidade e completude. O PIPES visa superar as limitações observadas no OpenML e fornecer uma coleção mais completa de pipelines e de resultados desses pipelines quando aplicados a diversos conjuntos de dados, facilitando a pesquisa em aprendizagem de máquina e em meta-aprendizagem.

— Lucas B. V. de Amorim, George D. C. Cavalcanti, Rafael M. O. Cruz. Meta-Scaler: A Meta-Learning Framework for the Selection of Scaling Techniques.

O IJCNN possui um track de journal-to-event que seleciona artigos publicados em um conjunto seleto de revistas para serem apresentados no evento. Este foi o caso desse nosso artigo publicado no IEEE Transaction on Neural Network and Learning System e apresentado no IJCNN. 


Clichê, mas não menos verdadeiro: Roma é realmente um museu a céu aberto. Ruínas, igrejas, monumentos, e poucas árvores, ou quase nenhuma. Quente, muito quente… não lembro de ter sentido um calor tão intenso durante toda uma semana em Recife. Lembre-se: sou nordestino. Estava realmente muito quente e minha mente dizia: continue andando e bebendo água.

Pasta, gelato e espresso. Sim, mesmo neste calor, não deixei de apreciar vários espressos italianos. Por que o espresso deles é tão melhor do que os outros? Como eles conseguem, tão naturalmente, tirar um espresso tão bom? Não sei a resposta, mas o apreciei o quanto pude.

Seria justo comparar com outras cidades? Independente da resposta, mesmo sabendo do prazer que sinto ao escutar italiano nas ruas e da pasta, tenho um sentimento que, de alguma forma, coloco Paris em outro patamar. Roma é mais antiga e se apresenta mais antiga. A história açoita o olhar em cada rua, cada esquina. Ruas antigas desafiam a modernidade com carros, motos e ônibus que pulsam, como era de se esperar para uma metrópole, e disputam espaço com moradores e muitos turistas. As calçadas de Paris são mais largas; mas, não menos lotadas. Roma and Paris are really walkable cities. E é assim que deve-se conhecê-las: andando. Desta vez, foram mais de 100km caminhados dentro do Aurelian Walls.

Trondheim, Noruega (SSCI’2025)

A recepção ao chegar no aeroporto de Trondheim foi neve. Sim, estava frio e o visual branco/cinza não apenas no chão, mas também no céu. Mas, lembro da recepção calorosa na minha primeira participação no IEEE Symposium Series on Computational Intelligence (SSCI), um evento bianual que neste ano ocorreu de 17-20 de março.

Deixar Recife com destino ao país nórdico requer um punhado de paciência. Pelos menos duas paradas e muitas horas em aeroportos. Meus voos foram: Recife para São Paulo (~3h), São Paulo para Amsterdã (~11h) e Amsterdã para Trondheim (~2h). Embora o trajeto tenha sido cansativo, o evento foi bastante proveitoso e tive a oportunidade de conhecer muitos outros pesquisadores, conhecer um pouco da cidade-cede do evento e, claro, participar das apresentações dos dois artigos que fui co-autor. 

O artigo Multi-view autoencoders for Fake News Detection, assunto da tese de doutorado de Ingryd Pereira com co-orientação do prof. Rafael Cruz, propõe uma abordagem para fundir vários embeddings em apenas um. A ideia é manter as informações mais importante de cada um dos embeddings usados como entrada, além de ser mais eficiente do ponto de vista computacional. Os resultados se mostraram promissores para o contexto de detecção de fake news.

Já o artigo Imbalanced malware classification: an approach based on dynamic classifier selection, foi desenvolvido pelos alunos de graduação José Vinicius e Camila Vieira, também com a colaboração do prof. Rafael Cruz. Este artigo insere-se no contexto de cibersegurança e trata de detecção de malware. A proposta contempla alternativas que lidam com o desbalanceamento das classes e com seleção dinâmica de classificadores que levaram a melhorias nas taxas de predição de malware.

Antes da recepção de boas vindas do evento, tivemos um recital na Catedral de Nidaros. Belíssimo som que envolveu todos os espaços da catedral emitido por um órgão com mais de 10.000 pipes, dos quais 72 eu conseguia ver por trás do instrumento. Como bem falou a senhora que nos inspirou ao passar seus dedos pelas teclas e seus pés nas “pedaleiras”, tocando de músicas locais, passando por Bach e pela trilha do filme Interestelar, a música tem esse papel de provocar sentimentos, é preciso senti-la. E é verdade, sentimentos de happyness, de sadness e de joy que parecem vir de canto-nenhum (provavelmente de dentro) afloram e são contribuídos pelo local especial.

A Catedral de Nidaros (antigo nome da cidade de Trondheim) está prestes a fazer mil anos. Vale salientar que a população atual da cidade é estimada em 215 mil habitantes; assim, mil anos atrás não deveria ter tanta gente por lá. Mas, a catedral é bem grande. O motivo é que, no passado, a catedral se tornou um ponto de peregrinação e muitos a visitavam. Por esse motivo, construiu-se uma catedral desse porte.

Olav Haraldsson foi rei da Noruega. Esse guerreiro viking se converteu ao catolicismo na cidade francesa de Rouen e foi responsável pela disseminação do cristianismo em seu país. Foi canonizado em 1164, tornado-se um santo da igreja católica. O altar principal da Catedral de Nidaros foi construído no local de seu sepultamento.

Após o recital, a recepção foi no Palácio do Arcebispo, ao lado da catedral. O espaço conta também com um museu. 

Um dos marcos da cidade é uma ponte (Old Town Bridge, construída em 1681) que cruza as águas do rio Nidelva que, por sua vez, corta a cidade.

Na quinta-feira, finalmente, parou de chover depois de três dias cansativos de chuva, frio e vento. Sim, parte do céu ficou azul e, como numa metamorfose, as pessoas foram às ruas, crianças brincando nas praças e adultos sentados nas mesas do lado de fora dos restaurantes — tudo isso com a temperara de 1 grau celsius; mas, sem chuva e sem vento. Almost paradise! 😉

Adoro caminhar nas cidades. Logo, aproveitei a ausência de chuva e de vento e fui ao forte Kristiansten (construído em 1681), a partir do qual é possível ter uma visão ampla de toda a cidade. Depois de dois quilômetros, parte do percurso em subida, a vista compensou cada passo. Verdade, o céu não estava azul, mas, quando comparado aos dias anteriores, não posso reclamar. 

Uma característica forte da cidade são as cores das casas. As casas e suas cores compõem uma paisagem harmoniosa, quebrando a dureza do frio, trazendo uma leveza alegre ao quebrar a monocromaticidade. Vermelhas, amarelas, verdes, beges, brancas, azuis , marrons, cinzas, … uma linda aquarela!

Bom, não foi desta vez que vi a aurora boreal. Mas, destaco que esta foi uma excelente oportunidade, pois a cidade de Trondheim está na latitude 63,45 (quanto maior mais perto do círculo polar ártico). A título de comparação, a cidade de Montreal que é conhecida pelo inverno intenso fica na latitude 45,51 e a maior cidade do Alaska, Anchorage, fica na latitude 61,22. Ou seja, Trondheim está mais perto do círculo polar ártico do que a maior cidade do Alaska!

Defesa de Tese — Lucas Amorim

No dia 18 de fevereiro de 2025, Lucas Amorim defendeu seu doutorado com o título: Meta-scaler+: a meta-learning based solution for model-specific
recommendations of scaling techniques
.

As principais contribuições do seu trabalho foram: i) uma avaliação empírica de métodos de scaling (a.k.a normalização); ii) proposta do Meta-scaler, um framework para a seleção do melhor método de scaling e, iii) o aprimoramento do Meta-scaler com a introdução de um “espaço de classificadores” para que seja possível recomendar métodos de scaling mesmo para classificadores ausentes no treinamento do framework.

Lucas teve a oportunidade de fazer um doutorado sanduíche na École de Technologie Supérieure (ÉTS), em Montreal-Canadá, sob a orientação do prof. Rafael Cruz. Agradeço Rafael não só por receber Lucas em Montreal, mas também por aceitar ser o co-orientador e pelas inúmeras ideias brilhantes durante nossa colaboração.

Lucas é professor da UFAL e iniciou o doutorado na pandemia. Curioso o fato de ele ter se reunido presencialmente com seu co-orientador (em Montreal) antes da primeira reunião presencial comigo em Recife. Pandemic rules!

Quem quiser saber mais sobre as duas primeiras contribuições (i e ii) do trabalho de Lucas, sugiro a leituras desses dois artigos:

Lucas B.V. de Amorim, George D.C. Cavalcanti, Rafael M.O. Cruz. The choice of scaling technique matters for classification performanceApplied Soft Computing, 2023.

Lucas B.V. Amorim, George D.C. Cavalcanti, Rafael M.O. Cruz. Meta-Scaler: A Meta-Learning Framework for the Selection of Scaling Techniques. IEEE Transactions on Neural Networks and Learning Systems, 2025.

Orgulhoso do trabalho final que abriu portas para muitas outras pesquisas relevantes, desafiados e interessante!

A defesa ocorreu presencialmente no Centro de Informática, embora alguns membros da banca participaram remotamente (Carlos Soares e Luís Garcia estão ausentes da foto ao final da banca). A banca foi composta pelos seguintes excelentes pesquisadores:

Defesa de Tese — Jusci Avelino

Na última semana de agosto de 2024, mais precisamente, no dia 26, Juscimara Gomes Avelino defendeu seu doutorado com o título: Imbalanced Regression Pipeline Recommendation.

O trabalho dela versou sobre desbalanceamento em tarefas de regressão. Uma das principais contribuições da tese foi o modelo Meta-learning for Imbalanced Regression (META-IR) que usa meta-aprendizagem para recomendar a melhor técnica de balanceamento e o melhor algoritmo de aprendizagem por banco de dados.

O doutorado é uma tarefa mal-definida que requer muita dedicação, esforço e resiliência. Você não ganha um doutorado, você o conquista por merecimento (you earn it!).

Sem dúvida, a defesa é um momento único para a aluna. Mas, ressalto que para o orientador é uma jornada espetacular! Gratificante, após tantas reuniões, tantas discussões, angústias e alegrias compartilhadas, enxergar a indubitável evolução científica e pessoal, desde o primeiro relatório até o envio da tese para a banca examinadora.

Nas emocionantes palavras dela:

“Um daqueles dias que só se vive uma vez na vida!
Hoje, obtive o título de DOUTORA em Ciência da Computação.
Se anos atrás alguém me dissesse que eu chegaria aqui, eu teria duvidado. E não é apenas sobre o título; é sobre todas as habilidades que adquiri, as experiências que vivi, e, acima de tudo, as novas oportunidades que estão por vir.
A educação é um fator transformador, especialmente na vida das pessoas menos favorecidas. E eu sou prova viva disso!

Ain’t no mountain high enough
Ain’t no valley low enough
Ain’t no river wide enough”

26/agosto, coincidentemente, neste dia são comemorados o dia “Internacional da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” e o dia “Internacional da Igualdade Feminina”. Bem significativo, não?!?!

Muito feliz por ter participado e contribuído nesta sua jornada e de suas conquistas!

Agradeço ao prof. Rafael Cruz (ETS, Canadá), que foi o co-orientador e que a recebeu em Montreal durante o doutorado sanduíche. Mas, saliento que, de fato, a orientação foi compartilhada. Para o bem e para o mal, ela teve dois orientadores! 😉

A defesa ocorreu presencialmente no Centro de Informática, embora alguns membros da banca participaram remotamente. A banca foi composta pelos excelentes pesquisadores:

Defesa de Tese — Francimaria

Doze de março, aniversário das cidades-irmãs: Olinda e Recife. Olinda completa 498 anos e é a irmã mais velha; dois anos a mais que Recife.

Nesta data emblemática, depois de quatro anos, Fran defendeu seu doutorado abordando um assunto atual, importante e de alta relevância: mitigação de viés em discurso de ódio. O título de sua tese é: Hate Speech Detection and Gender Bias Mitigation on Online Social Media.

Este é um assunto vasto, complexo e desafiador que pode ser observado por vários ângulos. Dentre as várias opções, a decisão foi focar em mitigação de viés de gênero. Mas, o que é isso e por que é importante desenvolver abordagens automatizadas para tal fim? Vamos lá!

Discurso de ódio nos “empobrece” como sociedade; fere grupos vulneráveis e reforça a discriminação e a marginalização. Desta forma, um primeiro passo para uma possível ação é descobrir se um determinado conteúdo contém discurso de ódio. A questão é que estamos inundados em textos, imagens e vídeos. Assim, não é viável analisarmos (trabalho humano) cada um destes conteúdos em busca de discurso de ódio. A resposta mais direta a essa alta demanda é colocar uma “máquina” para realizar o trabalho, ou seja, automatizar.

Para esse processo de automatização, a tecnologia de ponta vigente é a aprendizagem de máquina que extrai conhecimento de dados. Por usa vez, esse dados, muitas vezes, são produzidos por humanos que não estão isentos de viés. Logo, ao treinar uma máquina com dados que possuem viés, possivelmente, este viés será absorvido pela máquina de aprendizagem.

Daí, surge a pergunta que norteou a tese de Fran: como podemos minimizar/mitigar os efeitos de dados enviesados ao treinar as máquinas de aprendizagem?

Dentre os diferentes tipos de viés, tais como: de cor, de credo, de gênero; decidiu-se investigar o último. Uma máquina de aprendizagem ao ser apresentada, por exemplo, as seguintes sentenças que não possuem discurso de ódio (<You are a great man> e <You are a great woman>), deveria dar como saída scores baixos e similares para a presença de discurso de ódio. Mas, se o score para a sentença que contém a palavra woman é bem maior que o score para a sentença que possui a palavra man, isto pode ser um indicativo de que a máquina está enviesada.

Na tese, são propostos modelos capazes de mitigar o viés de gênero e, também, são indicados caminhos promissores para o avanço da área. Mesmo focando em viés de gênero, os modelos propostos na tese podem ser aplicados a diversos outros tipos de viés com mínimo esforço.

Os seguintes professores compuseram a banca examinadora:

Mais detalhes podem ser acessados nos seguintes artigos:

Hamburgo, Alemanha (CHI’2023)

De 23 a 28 de abril de 2023, participei do ACM CHI Conference on Human Factors in Computing Systems que ocorreu na cidade de Hamburgo, no norte da Alemanha.

Esse foi o maior CHI (que ocorre desde 1982) em termos do número de participantes, contando com mais de 4600 (provenientes de 79 países), dos quais, 3888 estavam presentes no centro de convenções. A taxa de aceitação do evento foi de 27,6%, pois dos 3128 artigos submetidos, apenas 879 foram selecionados.

O CHI não limita o tamanho do artigo. Embora tenha artigos com mais de 20 páginas, em coluna dupla, acredito que o mais comum é o uso de 12-14 páginas. Isso trás um desafio para os que cuidam do processo de revisão dos artigos (chairs e revisores), pois precisam lidar com uma quantidade grande de grandes artigos. Esta liberdade tente a ser modificada já para o evento do ano seguinte que será em Vancouver.

Embora artigos possam ter mais de 20 páginas, o tempo alocado para cada apresentação é de, no máximo, 10 minutos. Isso força os autores a produzirem apresentações que incluam apenas o fundamental para “venderem” suas ideias e achados, deixando os detalhes escritos nos artigos. Assim, logo após uma introdução contextualizando o problema, os apresentadores já deixam claro seus principais takeaways e findings. Não há tempo a perder!

Foram muito atrativas as apresentações do CHI, pois não perde-se tempo com trivialidades e, de maneira geral, notava-se um cuidado, um esmero, um árduo trabalho em cada slide. Cada transição era pensada com a audiência em mente, com o intuito de melhor contemplar os caminhos fundamentais trilhados pela pesquisa. Claro que em muitos casos, fiquei com “gosto de quero mais”! Desejava mais detalhes que podem ser obtidos na arguição, em conversa com os autores ou na leitura do artigo.

Dica: ao apresentar um artigo num congresso, seu objetivo não é explicar todos os detalhes do artigo, e sim, despertar o interesse da audiência em ler o seu artigo.

Um evento científico fornece várias oportunidades, dentre as principais que guiam os pesquisadores, têm-se: publicar o artigo, apresentar o artigo e interagir com a comunidade. No estado atual da tecnologia, podemos publicar e apresentar o artigo virtualmente com qualidade, mas, ainda temos que percorrer anos-luz para atingirmos uma qualidade viável para efetivamente integrar pessoas em ambientes virtuais.

Inesperados eventos nos forçam a mudar; faz parte da natureza de estar vivo. Assim, mirando no futuro, mas com um olhar no que herdamos durante o período da pandemia, o CHI tornou-se um evento híbrido. Vale destacar que os artigos dos autores que não puderam estar pessoalmente em Hamburgo, foram adicionados ao programa do evento e marcados como apresentações on-line (os vídeos ficaram disponíveis no site do evento). Esta marcação ajuda a minimizar surpresas como as que ocorreram no AAAI’23, no qual a audiência era surpreendida com a informação de que o autor não estaria presente na sala e seria apresentado um vídeo ou estaria presente na ferramenta de videoconferência Zoom.

Outro ponto que me chamou a atenção, difere do que estou acostumado, diz respeito ao formalismo dos artigos. Nesta caso, a falta de formalismo matemático de boa parte dos artigos.

Hamburgo

Segunda maior cidade da Alemanha, com a população perto dos dois milhões de pessoas. Um dos maiores rios da Europa passa por Hamburgo antes de desembocar no mar no norte. O rio Elba abriga o terceiro maior porto da Europa.

No porto de Hamburgo, uma maneira de passar de uma margem para a outra do rio é utilizar um túnel (St. Pauli Elbe Tunnel) que foi inaugurado em 1911 (foto a seguir). O túnel possui incríveis 426 metros de comprimento e fica a uma profundidade que atinge mais de 23 metros.

Berlin

De trem, percorrer os aproximadamente 280 km entre Hamburgo e Berlin, demora em média duas horas. Berlin é incrível, monumental, recheada de história antiga e recente. Poucas cidades no mundo foram destruídas e reconstruídas com tanto esmero. 

Parte da história continua lá, nos mais diversos símbolos. Conhecer a faixa que dividiu a cidade por 28 anos, de 1961 até 1989, em duas partes, uma liderada pela antiga União Soviética e outra tutorada por franceses, ingleses e norte americanos, mostra que devemos ficar constantemente alertas e, também, que devemos nortear nossos movimentos na direção que dignifique a humanidade. O murro de Berlin, com ficou conhecido, foi finalmente destruído em 1989, e sua derrubada permitiu que familiares próximos, amigos que não se encontravam há anos, pudessem congregar, dar e receber um abraço. O murro, de fato, não era um murro. Era uma faixa, um corredor, que forçosamente garantia a separação desagregadora e só justificável na insanidade que emerge de fins políticos.

O Portão de Brandemburgo é um marco na cidade desde sua inauguração em 1791. O murro de Berlin passava as margens do portão que ficou localizado no lado leste do murro, do lado soviético.

Parques, monumentos, edifícios históricos, catedrais, pontes, igrejas, universidade, museus, parques,… têm-se muitas opções ao visitar esta bela cidade.

Primeira turma de Residência em Visão Computacional do CIn-UFPE

Depois de um ciclo com um ano de disciplinas mais três meses para a confecção do trabalho de conclusão de curso, encerrou-se, no último dia de novembro deste ano, a primeira turma de residência/especialização em Visão Computacional do Centro de Informática (CIn) da UFPE. Coordenar esta primeira turma foi uma experiência gratificante que compartilhei com muita gente competente e dedicada.

Uma forte tríade (CIn, Samsung e SiDi) concebeu tal residência com o principal objetivo de formar gente capaz de dotar o computador de olhos e de cérebro para entender e interpretar imagens e vídeos. Profissionais especializados para um mercado ávido por qualificação.

Quanto ao cerne do curso, os egressos tiveram a oportunidade de aprender diversas técnicas relacionadas à inteligência artificial, à aprendizagem de máquina, ao processamento de imagens, à visão computacional e à aprendizagem profunda (deep learning). Além da parte teórica, os alunos vivenciaram o desenvolvimento e o ciclo de vida de produtos relacionados à visão computacional em um ambiente profissional de produção. Esta parte foi orquestrada pela experiente e competente equipe do SiDi.

Esta empreitada foi realmente um trabalho de um grande time: Luciano Barbosa (vice-coordenador da residência), equipe Samsung-CIn (em especial, Berg Quintino, Ana Ferraz, Luciene Souza), SiDi (Rogerio Moreira, Michel Silvério, Angelica Demarchi Munhoz, Nicksson Ckayo Arrais de Freitas e demais membros) e professores (Adiel Teixeira de Almeida Filho, Carlos Alexandre Barros de Mello, Fernando Maciano de Paula Neto, Luis Filipe Alves Pereira, Jonysberg Peixoto Quintino, Paulo Salgado Gomes de Mattos Neto, Luciano de Andrade Barbosa, Tsang Ing Ren). Lista sempre em construção… 😉

Parabéns especial aos alunos da residência: Arianne Santos da Macena, Bruno Henrique Lira dos Anjos, Caio Felipe Pinheiro Cantanhêde, Daniel Cavalcanti Macedo, Eliaquim Moreira do Nascimento, Francisco Mauro Falcão Matias Filho, Franklin Lázaro Santos de Oliveira, John W. Soares de Lima, José Dias Carneiro Neto, Otávio Azevedo de Carvalho Kamel Barbosa, Ravi Barreto Doria Figueiredo, Richardson Bruno da Silva Andrade, Tasso Luis Oliveira de Moraes, Vinicius Dantas Santos e Wesley Souza.

140 mil horas depois… professor titular!

Em novembro/2005, ingressei como professor adjunto 1 do CInUFPE e, 140 mil horas depois, em novembro/2021, solicitei progressão para o topo da carreira: a posição de professor titular.

Pelas regras vigentes, a cada dois anos pode-se solicitar progressão. Esse é o primeiro critério: tempo. Se não completou dois anos, nada feito! Após este tempo, alguns critérios são avaliados: aulas para a graduação e para a pós-graduação, pesquisa, orientação e formação de alunos, cargos administrativos, aprovação de projetos para angariar recursos, entre outros.

Se a cada dois anos a documentação necessária for devidamente processada/avaliada, a progressão é efetuada. Depois de adjunto 1, vem 2, 3 e 4. E, depois, associado 1, 2, 3 e 4. Para que se possa pleitear o próximo patamar, o de professor titular, pelo menos 140 mil horas já se passaram.

Foram duas etapas para esta última promoção. Na primeira, deve-se compor um documento contendo as atividades realizadas (e suas comprovações) para os anos anteriores desde a última progressão; no meu caso, do final de 2019 ao final de 2021. Aprovado nesta etapa, pode-se escolher dentre dois caminhos possíveis para a segunda etapa: defesa de tese ou defesa de memorial. Relutei um pouco e decidi seguir pelo caminho mais convencional: um memorial. Tal memorial deve condensar as principais atividades desempenhadas pelo candidato em sua vida acadêmica, em particular, na instituição que se encontra. Assim, um documento com mais de 1800 páginas foi gerado.

Doutores que orientei e co-orientei nos últimos 10 anos

Uma banca composta por três professores avalia o candidato, seu memorial e sua trajetória. Fiquei bastante feliz com os professores selecionados para a minha banca. Professores de destaque nacional e internacional e com carreiras acadêmicas sólidas. São eles: André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho (ICMC/USP), Alexandre Xavier Falcão (Unicamp) e Marcilio Carlos Pereira de Souto (Université d’Orléans, França). Os dois primeiros são pesquisadores PQ-1A do CNPq.

A banca ocorreu no dia dos santos Cosme e Damião (27 de setembro), em 2022. Impossível não recordar os anos que vivi perto da igreja mais antiga do Brasil, em Igarassu. Igreja que leva o nome dos santos e teve sua construção iniciada em 1535. Foi, também, nestes anos que fui agraciado com um CP400, meu primeiro computador. Após a sabatina, veio a aprovação. Mais um ciclo se fecha… como faz bem cumprir etapas!

Inevitável (que bom!) não ter dívidas de gratidão com um “bocado” de gente: painho e mainha (Vicente e Nildete), Binha, Tozinho, Deinha, familiares e amigos. Do ponto de vista acadêmico, gostaria de agradecer aos meus alunos, aos meus parceiros na pesquisa e aos meus professores. Em especial, após meu ingresso como professor no CIn, gostaria de agradecer a duas pessoas. Inden, também professor do CIn, meu amigo, pelas discussões acadêmicas ou não, nos mais diversos assuntos completamente organizados de maneira aleatória e ao mesmo tempo com um enlace lógico e racional. E, também, gostaria de agradecer a Robert, primeiro professor emérito da ETS, Montreal, Canadá. Pessoa mais apaixonada por pesquisa que conheci. Fazer pesquisa em altíssimo nível é premissa inegociável. Bem como, suas famosas reuniões intermináveis que, mesmo ao “final”, já no happy hour, não era o término da discussão científica.

Sem todos vocês, essas 140 mil horas não teriam valido a pena! Que saboreemos todos os próximos minutos! A jornada está sempre no início! Pois, ela se renova constantemente!