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140 mil horas depois… professor titular!

Em novembro/2005, ingressei como professor adjunto 1 do CInUFPE e, 140 mil horas depois, em novembro/2021, solicitei progressão para o topo da carreira: a posição de professor titular.

Pelas regras vigentes, a cada dois anos pode-se solicitar progressão. Esse é o primeiro critério: tempo. Se não completou dois anos, nada feito! Após este tempo, alguns critérios são avaliados: aulas para a graduação e para a pós-graduação, pesquisa, orientação e formação de alunos, cargos administrativos, aprovação de projetos para angariar recursos, entre outros.

Se a cada dois anos a documentação necessária for devidamente processada/avaliada, a progressão é efetuada. Depois de adjunto 1, vem 2, 3 e 4. E, depois, associado 1, 2, 3 e 4. Para que se possa pleitear o próximo patamar, o de professor titular, pelo menos 140 mil horas já se passaram.

Foram duas etapas para esta última promoção. Na primeira, deve-se compor um documento contendo as atividades realizadas (e suas comprovações) para os anos anteriores desde a última progressão; no meu caso, do final de 2019 ao final de 2021. Aprovado nesta etapa, pode-se escolher dentre dois caminhos possíveis para a segunda etapa: defesa de tese ou defesa de memorial. Relutei um pouco e decidi seguir pelo caminho mais convencional: um memorial. Tal memorial deve condensar as principais atividades desempenhadas pelo candidato em sua vida acadêmica, em particular, na instituição que se encontra. Assim, um documento com mais de 1800 páginas foi gerado.

Doutores que orientei e co-orientei nos últimos 10 anos

Uma banca composta por três professores avalia o candidato, seu memorial e sua trajetória. Fiquei bastante feliz com os professores selecionados para a minha banca. Professores de destaque nacional e internacional e com carreiras acadêmicas sólidas. São eles: André Carlos Ponce de Leon Ferreira de Carvalho (ICMC/USP), Alexandre Xavier Falcão (Unicamp) e Marcilio Carlos Pereira de Souto (Université d’Orléans, França). Os dois primeiros são pesquisadores PQ-1A do CNPq.

A banca ocorreu no dia dos santos Cosme e Damião (27 de setembro), em 2022. Impossível não recordar os anos que vivi perto da igreja mais antiga do Brasil, em Igarassu. Igreja que leva o nome dos santos e teve sua construção iniciada em 1535. Foi, também, nestes anos que fui agraciado com um CP400, meu primeiro computador. Após a sabatina, veio a aprovação. Mais um ciclo se fecha… como faz bem cumprir etapas!

Inevitável (que bom!) não ter dívidas de gratidão com um “bocado” de gente: painho e mainha (Vicente e Nildete), Binha, Tozinho, Deinha, familiares e amigos. Do ponto de vista acadêmico, gostaria de agradecer aos meus alunos, aos meus parceiros na pesquisa e aos meus professores. Em especial, após meu ingresso como professor no CIn, gostaria de agradecer a duas pessoas. Inden, também professor do CIn, meu amigo, pelas discussões acadêmicas ou não, nos mais diversos assuntos completamente organizados de maneira aleatória e ao mesmo tempo com um enlace lógico e racional. E, também, gostaria de agradecer a Robert, primeiro professor emérito da ETS, Montreal, Canadá. Pessoa mais apaixonada por pesquisa que conheci. Fazer pesquisa em altíssimo nível é premissa inegociável. Bem como, suas famosas reuniões intermináveis que, mesmo ao “final”, já no happy hour, não era o término da discussão científica.

Sem todos vocês, essas 140 mil horas não teriam valido a pena! Que saboreemos todos os próximos minutos! A jornada está sempre no início! Pois, ela se renova constantemente!

EnANPAD 2022 — artigo premiado

Na sexta-feira (23/setembro/2022) foi realizada a cerimônia de encerramento do XLVI Encontro da ANPAD (EnANPAD). Este é o maior evento nacional da área e, neste ano, contou com mais e 1.900 participantes e com 2.389 trabalhos submetidos.

Apresentei o artigo “Reward Crowdfunding Success Forecasting: An Empirical Evaluation of Machine Learning Algorithms” que condensa um trabalho desenvolvido a várias mãos, com resultados promissores e desafios próprios de um trabalho multidisciplinar, mulitárea, multiregião e multi-institucional.

Neste trabalho, avaliamos diferentes algoritmos de aprendizagem de máquina (classificadores monolíticos e sistemas estáticos e dinâmicos de combinação de classificadores) para o problema binário de predição de sucesso de rewards-based crowdfunding.

Como intuito de melhorar a predição do sistema, foram adicionadas informações relativas ao sentimento da mídia no momento de lançamento da campanha de crowdfunding. Estas informações foram extraídas de tweets do jornal O Estado de São Paulo. Por fim, estratégias de eXplainable Artificial Intelligence (XAI), mas especificamente, Shapley values, foram usadas para indicar e “explicar” quais atributos mais influenciaram nas decisões dos classificadores. Tais explicações podem ser de grande valia não apenas para usuários finais de sistemas dessa natureza, pois podem aumentar a confiança sobre as decisões automáticas, mas também são vitais para que pesquisadores possam melhor entender os erros (e os acertos) das máquinas de aprendizagem, e, assim, gerar versões ainda mais precisas dos algoritmos.

Nosso artigo recebeu duas distinções: Divisão de Finanças e Melhor Trabalho do Evento (cerimônia de premiação: link do YouTube, 31′). Agradeço a parceria com os pesquisadores Wesley, Israel e Leonardo.

Padova-Itália (WCCI’2022)

Primeira viagem após o início da pandemia. Expectativa, alívio, renovação, ou, simplesmente, desejo de retornar à liberdade ora perdida de súbito. Algo foi retirado, sem planejamento, de repente, inesperadamente.

Procuramos novas alternativas. Mesmo sabendo que o anseio é voltar. Voltar ao conhecido, voltar ao que achamos que nos dá segurança. 

Segurança não há! A incerteza é o próximo movimento de um jogador imbatível. Mas, a incerteza nos coloca em modo de atenção do qual emerge mais aprendizado. Parece contraditório, mas não é; é vida.

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Neste ano, participei mais uma vez do World Congress on Computational Intelligence (WCCI) que congrega três grandes eventos: IJCNN, CEC e FUZZ-IEEE. Este ano foi especial! Não apenas por ter ocorrido na Itália, na cidade de Padova (Patavium) que possui a segunda universidade mais antiga da Europa com 800 anos, mas também, por ser um recomeço. Nos três eventos, que ocorreram durante a semana de 18 a 23 de julho, foram apresentados mais de mil artigos.

Destes artigos, fui co-autor de dois:

Mariana Souza, Robert Sabourin, George Cavalcanti, Rafael Menelau Oliveira e Cruz.
Local overlap reduction procedure for dynamic ensemble selection
Carlos Antônio A Júnior, Luis Filipe Alves Pereira, George Cavalcanti, Tsang Ing Ren.
Ensemble of Convolutional Neural Networks for Sparse-View Cone-Beam Computed Tomography

São várias as atrações em Padova que ladeavam os caminhos que conectam o hotel ao local do evento. Alguns exemplos nas fotos a seguir.

As ruínas romanas do anfiteatro de Padova datam de 27ac—14dc. Já o Pedrocchi Café é bem mais recente, mas, está em funcionamento há quase duzentos anos.

A Universidad degli Studi di Padova foi fundada em 1222 por um grupo de estudantes e de professores, dissidentes da Universidade de Bolonha, em busca de mais liberdade acadêmica. Galileo Galilei foi professor nesta universidade de 1592 a 1610. Além disso, Elena Cornaro Piscopia tornou-se a primeira mulher a se graduar em uma universidade (em 1678) e a receber um título de doutora.

Mais uma data: a Basílica de Santo Antônio de Padova começou a ser construída em 1230 e, em uma de suas capelas, repousam os retos mortais de Santo Antônio.

Bologna

A cidade de Bologna é uma das mais populosas da Itália e está a 120 km de Padova. A universidade que leva o nome da cidade foi a primeira universidade da Europa, fundada em 1088.

São várias as atrações históricas desta antiga cidade. Entre elas, a Basílica de Santo Stefano, também conhecida como complexo das Sete Igrejas (Sette Chiese). Este complexo não chama tanta a atenção do lado de fora. Mas, ao adentrar, a composição de diferentes construções desperta a curiosidade e os olhares dos visitantes. Uma das igrejas do complexo é a Igreja do Santo Sepulcro; além disso, o complexo pretende reproduzir os caminhos da paixão de Cristo.

Ao andar nas ruas de Bologna, não nos damos conta dos túneis sob nossos pés. Como curiosidade, soube que existe um rio sob a cidade. Tal rio pode ser visto entre os prédios através de uma pequena janela da Via Piella (a Itália está passando por uma forte seca, por isso o rio mais parece um filete de água).

Agradeço Inden pela oportunidade de ser guiado por seus espetaculares amigos italianos: Manu, Elisa, Erica e Francesco, que além da arquitetura e dos monumentos da cidade, foram bastante generosos ao nos apresentar à fascinante culinária local. Destaco o gelato artesanal da Cremeria Santo Stefano e o jantar no Ristorante il Passatello di Bologna.

Venezia

Dos lugares únicos que conheci, acrescento Veneza. Desconheço outro local semelhante. É como o monte Saint-Michel na França; lugar único, mágico. Uma riqueza para os olhos, atentos ou não. A infinitude de detalhes ao longo de suas ruelas estreitas nos transporta para outra era, para filmes, para a alegria de uma cidade que vislumbra a paz após períodos tenebrosos. 

Neste verão de mais de quarenta graus, suas ruas pulsam como veias e seus “rios” como artérias que transportam pessoas de e para o seu coração, representada nesta metáfora pela praça de São Marcos.

 Prego!

Budapeste-Hungria (IJCNN’2019)

A cidade de Budapeste é cortada pelo rio Danúbio que no passado separava a cidade plana, chamada de Pest, da cidade com morros, chamada de Buda. A junção de Buda com Pest só ocorreu no final do século dezenove.

Budapeste recebeu a comunidade de redes neurais e áreas de pesquisas afins no International Joint Conference on Neural Network (IJCNN), que ocorreu de 14 a 19 de julho desse ano. Mais especificamente, o IJCNN foi sediado na parte plana, Pest, às margens do rio Danubio, de frente ao castelo de Buda localizado na outra margem do rio.

Como parte da atividades do projeto de colaboração que mantenho com o prof. Laurent Heutte (Universidade de Rouen, França) e com os profs. Alceu Britto Jr (PUC-PR) e Luiz Oliveira (UFPR), coordenamos uma sessão especial no IJCNN com o título Ensemble Learning and Applications.

Nesse ano, o IJCNN recebeu 1532 submissões de artigos de 82 países e, aproximadamente metade, (50%) deles foram aceitos para apresentações oral e pôster. Tive dois artigos aceitos e apresentados de forma oral. O primeiro artigo (On evaluating the online local pool generation method for imbalance learning) foi apresentado por Mariana (foto a seguir) que atualmente está fazendo se doutorado na École de technologie supérieure (ETS), em Montreal-Canadá, com supervisão do prof. Robert Sabourin e com minha co-orientação. Esse artigo apresenta uma avaliação do método de geração local de conjuntos de classificadores (OLP) em problemas com desbalanceamentos entre as classes.

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Thiago que está terminando seu doutorado no Centro de Informática-UFPE, orientado por mim e co-orientado pelo prof. Luiz Oliveira (UFPR), apresentou o artigo Evaluating Competence Measures for Dynamic Regressor Selection (foto a seguir). Nesse artigo, avaliamos diferentes medidas que são usadas para escolher os melhores regressores em um conjunto de modelos previamente treinados.

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Budapeste é uma cidade exuberante. São vários bares, cafés e restaurantes em suas ruas, nos quais, nota-se um intenso vai e vem de pessoas bonitas. No verão, com clima favorável e com a simpatia dos hóspedes, apesar da particular língua local (vale destacar que nos diversos estabelecimentos fala-se inglês), Budapeste é, sem dúvida, um convite que deve ser recebido e tratado com atenção especial. 

A cidade possui vários monumentos. Várias estatuas de bronze estão espalhadas pela cidade. Seguem dois exemplos nas fotos a seguir: little princess e sapatos às margens do Danúbio; ambas as fotos com o castelo de Buda ao fundo. 

O memorial dos sapatos de bronze homenageia as vítimas que foram assassinadas nas margens do Danúbio durante a segunda grande guerra. Essas vítimas eram obrigadas a retirar os sapatos antes de serem mortas, pois os sapatos eram considerados itens de valor. Esse memorial fica próximo ao parlamento húngaro e, por mais belo que seja o lugar, é inquietante saber o motivo pelo qual os sapatos lá estão — desassossego exacerbado pelos vários sapatos infantis (many little princes and princesses).

Premiação — produção científica (CIn-UFPE) — 2019

O Centro de Informática da UFPE promove anualmente um evento com o objetivo de premiar os professores que publicaram artigos nas melhores revistas científicas internacionais da área.

Nesse ano, foram premiados 39 professores que juntos publicaram 56 artigos no ano de 2018. Apenas os periódicos bem avaliados no qualis da Capes em Ciência da Computação, com extratos A1, A2 e B1, são levados em consideração.

A seguir, a placa comemorativa que recebi por ter alcançado o maior índice de publicações dentre os professores do centro.

201906-cin1

Dos 56 artigos premiados, fui co-autor de 5 — listados a seguir:

Rafael M.O. Cruz, Robert Sabourin, George D.C. Cavalcanti. Dynamic classifier selection: recent advances and perspectives. Information Fusion, pp. 195-216, 2018.

Anandarup Roy, Rafael M.O. Cruz, Robert Sabourin, George D.C. Cavalcanti. A Study on combining Dynamic Selection and Data Preprocessing for Imbalance Learning. Neurocomputing, pp. 179-192, 2018.

Rafael M. O. Cruz, Robert Sabourin, George D. C. Cavalcanti, Prototype Selection for Dynamic Classifier and Ensemble SelectionNeural Computing and Applications, pp. 447-457, 2018.

Rafael Ferreira, George D.C. Cavalcanti, Fred Freitas, Rafael D. Lins, Steven Simske, Marcelo Riss. Combining Sentence Similarities Measures to Identify Paraphrases. Computer Speech and Language, pp. 59-73, 2018.

Tiago B.A. Carvalho, Maria A.A. Sibaldo, Tsang Ing Ren, George D.C. Cavalcanti, Jan Sijbers, Ing Jyh Tsang. IntensityPatches and RegionPatches for Image Recognition. Applied Soft Computing, pp. 176-186, 2018.

 

 

Montreal, Canadá (ICPRAI’2018)

Essa viagem foi motivada por duas atividades acadêmicas: visita científica à École de Technologie Supérieure (ETS) e participação no International Conference on Pattern Recognition and Artificial Intelligence (ICPRAI). A primeira semana da viagem foi dedicada à colaboração científica com o prof. Robert Sabourin e com o Dr. Rafael Cruz, ambos da ETS. Discutimos, entre outros assuntos, nossa visão sobre o futuro da área de combinação dinâmica de classificadores e possíveis abordagens para a geração de classificadores on the fly.

Na segunda semana, participei do ICPRAI que foi realizado na Concordia University. Foi nessa universidade que ocorreu o ICFHR em 2008, quando da minha primeira visita ao Canadá. Rafael apresentou nosso artigo “On dynamic ensemble selection and data preprocessing for multi-class imbalance learning” que avalia o desempenho de técnicas de seleção dinâmica de classificadores quando associadas a técnicas de pré-processamento em bancos de dados com diferentes graus de desbalanceamento. As técnicas de seleção dinâmica de classificadores estudadas obtiveram melhores resultados do que a combinação estática nas três medidas avaliadas: G-mean, F-measure e AUC. Além disso, os experimentos mostraram que o uso de pré-processamento melhora significativamente os desempenhos de técnicas de combinação dinâmicas e estáticas. Esse artigo foi convidado para uma edição especial do International Journal on Pattern Recognition and Artificial Intelligence.

Montreal é a cidade com a maior proporção de restaurantes por habitante do planeta. Um paraíso gastronômico. A diversidade é imensa. Tem comida para todos os gostos. Das minhas impressões, destaco o restaurante afegão Khyber Pass. Este figura no topo dos melhores restaurante que já tive o prazer de frequentar. Dica: antes de ir ao restaurante, compre um vinho de sua escolha numa Liquor Store e levo-o. Essa é uma prática comum por lá pois eles não cobram a “rolha” (taxa cobrada em alguns restaurantes para que você possa levar seu vinho).

Montreal é uma cidade que emana um charme que advém, em parte, da herança francesa. Ela é uma cidade verdadeiramente bilíngue. O famoso “Bonjour! Hi!” é ouvido nos mais diversos estabelecimentos. Multicultural!

(Homenagem ao cantor Leonard Cohen na Rue Crescent)

Rouen, França (2018)

Nesses dias de janeiro, com temperatura máxima de dez graus celsius, conheci a bela e antiga cidade de Rouen, maior cidade da Normandia com cento e dez mil habitantes. Cidade medieval às margens do rio Sena, com várias e lindas igrejas góticas. A maior e mais imponente delas é a Catedral Notre-Dame de Rouen. Nessa catedral está a tumba com o coração de Ricardo Coração de Leão que foi rei da Inglaterra e duque da Normandia em 1189.

(Catedral Notre-Dame de Rouen)

 Joana d’Arc foi queimada em Rouen, em 1431. Ela foi declarada santa em 1920 pelo Papa Bento XV. Uma das capelas que compõem a catedral de Rouen é dedicada à ela.

(foto tirada em uma das paredes da cidade histórica de Rouen)

No centro antigo da cidade, a arquitetura das casas deve ser apreciada. Suas fachadas são emolduradas com madeira e os vãos preenchidos com barro. Essa composição e as cores dão um ar medieval à cidade, em especial, quando a cidade é açoitada por uma neblina gelada.

A história não está apenas nos livros, está viva nas ruas de Rouen. O Palais de Justice (foto a seguir), no centro de Rouen, ainda mostra as marcas da segunda grande guerra. Buracos de balas são cicatrizes que descansam em suas paredes e não nos deixam esquecer a dispensabilidade de uma guerra.

Cemitério, peste negra.

Pesquisa em ciência da computação às avessas

Motivado por indicação de um dos revisores de um artigo meu que está em análise, li e sugiro a leitura de dois artigos interessantes que abordam a necessidade, ou não, de experimentação em ciência da computação, são eles:  Experiments as Research Validation: Have We Gone Too Far? e Theory Without Experiments: Have We Gone Too Far?.

A ciência da computação é vasta e formada de várias subáreas, entre elas: teoria da computação, banco de dados, redes, engenharia de software, inteligência computacional e arquitetura. Como tal, encontrar uma metodologia universal para validar toda e qualquer pesquisa realizada na grande área parece-me utopia. <para quem leu os artigos listados no primeiro parágrafo> Entendo que o uso de experimentos não só ajudam, como não atrapalham; o problema é outro, pelo menos nas cercanias.

Decerto é que o foco da pesquisa, independente da subárea, deve estar na novidade e não apenas na precisão. Esse é um ponto importante pois é fácil encontrar artigos, ditos científicos que quando muito são tecnológicos, e até pesquisadores que justificam suas pesquisas pelo fato de terem encontrado uma boa precisão usando alguma medida. Vale salientar que a quantidade de medidas existentes é enorme e, derivado desse fato, encontrar pelo menos uma medida que justifique o modelo proposto pode ser questão de paciência. Veja esse artigo que lista mais de 30 medidas comumente usadas na área de mineração de dados.

Pesquisas dessa natureza muitas vezes se assemelham a colchas de retalhos compostas pela justaposição de diversas abordagens e que parecem ter surgido por obra do acaso ou por tentativa e erro. Nesses casos, justificar a motivação de tais pesquisas torna-se um pandemônio. Pois, as motivações de fato nunca foram pensadas, e agora que boas taxas de acerto foram obtidas é necessário pensar às avessas. Aí, o objetivo da pesquisa passa a ser encontrar uma justificativa que suporte a medida. <e quando tal justificativa não é encontrada? Resposta curta: comece novamente. Resposta longa: discutiremos isso em outro momento>.

Obter resultados muito bons não é ruim. Muito pelo contrário, em especial para a indústria que busca soluções para o mercado sempre ávido por diferenciais que desbanquem a concorrência. Por outro lado, para o crescimento do “conhecimento científico” precisamos de algo mais. Precisamos de premissas que suportem nossas ideias, pois assim, podemos colocar mais um degrau na escada que ajudará outros pesquisadores a galgar na direção da expansão do conhecimento científico.

Banca de doutorado no ITA

Nas vésperas do Natal de 2015 fui pela primeira vez para a cidade de São José dos Campos-SP. Essa viagem foi motivada pelo convite do prof. Carlos Ribeiro para que eu participasse como examinador externo na defesa de doutorado de sua aluna Thaís Uzun. O assunto da tese foi a detecção de comunidades que tem o objetivo de encontrar nós que são densamente conectados; essa é uma área de estudos relacionada a redes complexas.  Essa foi minha última banca de doutorado do ano.

Antes da defesa no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) , Carlos sugeriu que almoçássemos num restaurante chamado Quisque Philosofy. Restaurante com uma decoração muito agradável no estilo “colcha de retalhos”, no qual ambientes diferentes são decorados de maneira particular. Em um ambiente, grafites, noutro quadros abstratos. Um excelente restaurante orgânico gourmet; agradável recanto num bairro calmo.

Fazia um tempo queria ler o livro “Correr” escrito pelo médico Drauzio Varella. No dia anterior à defesa fui numa livraria e comprei-o. Logo pensei que seria mais um livro que iria para a estante à espera de uma pausa, sempre postergada, para finalizar sua leitura. Dos males que vem para o bem, o avião, na volta para Recife, demorou cinquenta e cinco minutos parado na pista, enquanto aguardava dois passageiros com problemas de locomoção, mais quase três horas de voo, tempo habitual da viagem para o trecho Guarulhos-Recife. Tempo suficiente para finalizar o livro numa única sentada. Esse vai para a estante com partes destacadas e as “principais partes” na memória. Sensação boa! Boa como a sensação descrita pelo autor ao acabar uma maratona. Acabei e prontamente fui modificado pelo processo. Sensação boa!

Esse foi o segundo livro de Varrela que li. O primeiro foi o “O médico doente” no qual o autor relata sua experiência como paciente após contrair febre amarela e ter um diagnóstico tardio. Assim como o primeiro livro, “Correr” é de leitura fácil e as páginas correm/voam por uma narrativa fluida permeada por sinceridade e doses de humor.

Ao terminar o livro, desejo voltar a correr. Na realidade, assim que acabei, queria correr. Correr pois compartilho com o autor experiências de autoconversa durante uma corrida. Autoconversa nem sempre consciente, mas sempre necessária.

Feliz Natal!

23|dezembro|2015